. FABRÍCIO QUEIROZ – Serviu no Grupo de Paraquedistas com Jair Bolsonaro em 1984, virou PM e anos depois foi ser assessor no gabinete do deputado estadual Flávio Bolsonaro por 12 anos. Da sua ficha constam mais de dez assassinatos suspeitos. Acusado de comandar o esquema de “rachadinha” no gabinete, verba que era usada para financiar negócios de grupos de milicianos. Em apenas um ano foi rastreado mais de R$ 1,2 milhão, arrecadado entre funcionários de Flávio. Trabalhou na PM diretamente com Adriano da Nóbrega;

. ADRIANO DA NÓBREGA – Como policial chegou a oficial do BOPE (PM/RJ), do qual foi afastado por conduta suspeita. Serviu no Batalhão de Olaria, região que aterrorizava com o Grupo de Apoio Tático (GAT). Foi preso e condenado por assassinato em 2003, mesmo ano em que recebeu a Medalha Tiradentes do deputado Flávio Bolsonaro e foi homenageado como “brilhante oficial” pelo deputado federal Jair Bolsonaro. Tornou-se segurança de bicheiro e matador profissional. Estava lotado, junto com a mulher e a mãe, no gabinete de Flávio Bolsonaro. Montou a milícia “Escritório do crime” em Rio das Pedras, que explora apartamentos em prédios construídos em terras griladas, dentre outros serviços. No início de 2020 foi executado por policiais no interior da Bahia;

. MAJOR PM RONALD PEREIRA – Acusado de comandar a grilagem de terras em Vargem Grande e V. Pequena (Zona Oeste do Rio) e de ser chefe da milícia da Muzema, no Itanhangá. Também homenageado pelo deputado Flávio Bolsonaro, em 2004, com menção honrosa;

. RONNIE LESSA – Ex-sargento da PM (reformado), tem carteira de adesão a Escuderie Le Coq (Esquadrão da Morte), também recebeu homenagem da ALERJ, em 1988, por sua atuação no Batalhão de Irajá. Perdeu uma perna num atentado, em 2009, quando já era acusado de estar ligado ao contraventor Rogério Andrade (filho de Castor). Tinha casa no mesmo condomínio da Barra em que Jair Bolsonaro reside e mansão em Angra dos Reis. Preso, acusado de matar a vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes.

. ÉLCIO QUEIROZ – Ex-sargento da PM, expulso em 2015, acusado de exploração de jogos de azar (bicho e máquinas caça-níqueis). Várias mortes nas costas na ficha policial. Está preso, acusado de participar do assassinato de Marielle e Anderson.

(*) Todas as informações relatadas são de conhecimento público, a partir de pesquisas na Rede Mundial de Computadores.

Para entender as condições precárias de subsistência da população negra e mestiça no Brasil é preciso retomar nossas raízes históricas. O trabalho que melhor descreve a formação histórica do século XVI a XIX no país é “O Escravismo Colonial”, do marxista Jacob Gorender.

Ali o autor afirma a originalidade do empreendimento colonial português, que atravessou três séculos e foi decisivo para a compreensão da realidade brasileira, tão distinta da América espanhola.

Gorender afirma o escravismo colonial como um sistema de produção, baseado no empreendimento agroexportador, conhecido pelos ciclos da cana-de-açucar, ouro e café. Ele mostra que a unidade econômica nacional, conduzida pelo colonizador português, só foi possível pela intensificação do uso da terra em monoculturas, em que o mercado de compra e venda de escravos era fundamental.

Os historiadores calculam entre 3 a 5 milhões de escravos negros que teriam sido trazidos para o Brasil até 1888. Mesmo após a Independência (1822) até a libertação, a importação de escravos seguiu intensa, apesar da repressão e vigilância britânica, porque o Brasil mantinha um modelo agroexportador de alimentos e produtos primários.

Isso só foi possível porque o empreendimento colonial, baseado na escravidão, requeria um profundo autoritarismo, que começava pela prisão e separação de famílias e etnias ainda em solo africano, a negociação dos escravos, seguida de sua venda nos portos (Rio, Recife e Salvador), o cativeiro, até as jornadas penosas de trabalho nas fazendas e os castigos bárbaros.

Para justificar a escravidão e os abusos, o colonizador apelou à antropologia racista, corroborada pela Igreja Católica de então, que apontava a ausência de “alma” nos povos africanos e nativos. Portanto, indígenas e negros podiam ser tratados como animais de carga e seus corpos eram alvo de toda sorte de abusos, da tortura ao estupro, que gerou uma “miscigenação” indesejada.

Os quilombos e quilombolas foram duramente reprimidos por expedições bandeirantes, que formavam corpos especiais, financiados por fazendeiros para capturar os que conquistavam a liberdade e servir de exemplo aos que pensassem em fuga.

O fim da escravidão (1888) se deu não por um desejo solidário da população branca brasileira, mas pela pressão internacional que exigia a incorporação do Brasil ao mercado mundial, a superação do escravismo e a adoção do sistema capitalista da venda da força de trabalho e apropriação da mais-valia.

Apesar das lutas e da resistência, o fim do modelo escravista no Brasil não ocorreu por um processo de ruptura, a exemplo do Haiti, ou mesmo por uma guerra civil, como nos EUA, mas como uma “concessão” do regime imperial. Por isso mesmo, toda a cultura escravocrata manteve-se praticamente intacta e atravessou o final do século XIX e o século XX, até os nossos dias.

Como consequência, nossas polícias se originaram da Guarda Imperial, formada para “caçar negro fujão” e nossos soldados são os feitores modernos; as prisões brasileiras são verdadeiros cativeiros; nossas favelas são senzalas contemporâneas; o trabalho ainda é desvalorizado e visto como coisa de pobre e negro; a mão de obra mais desqualificada e barata do país é formada por homens e mulheres negras e mestiças; o açoite foi substituído pela tortura, aceita como forma de obter confissões criminais. As perseguições e punições permanentes servem para lembrar que “negro tem que saber o seu lugar”.

Não foram poucas as tentativas de impor uma política oficial de melhoria da raça (Eugenia) durante o século XX, acreditando que só assim seria possível fazer do Brasil uma nação próspera. As religiões de matriz africana (Candomblé e Umbanda) sempre foram associadas a cultos diabólicos e duramente reprimidas, forçando-se a conversão ao catolicismo.

Essa cultura excludente e racista, herdada do empreendimento colonial, foi perfeitamente incorporada ao sistema capitalista no Brasil. Ela foi assimilada como algo natural pelas classes dominantes e parte das camadas médias urbanas, que desde o Império utilizam o trabalho doméstico pesado das mucamas – hoje cerca de sete milhões de domésticas – desvalorizado e mal remunerado. Até pouco tempo era comum o assédio e estupro das domésticas pelos patrões e seus filhos nos lares da classe média brasileira.

Das 1.814 pessoas mortas em 2019 por ações da polícia do Rio de Janeiro, 1.423 eram pretas  ou pardas. Entre elas, 43% tinham entre 14 e 30 anos de idade. Ou seja, a criminalização e repressão da negritude, em todos os seus aspectos, é uma política de Estado.

O acerto de contas com a História nos obrigará a encarar o Brasil de outra forma, afastando-nos do eurocentrismo e encarando nossas raízes. A promoção de uma política de cotas no ensino universitário serviu apenas de ensaio para o debate deste tema, que grita todos os dias com as incursões policiais nas favelas e periferias do país, assassinando parte da juventude negra brasileira marginalizada.

Apesar do represamento da indignação contra o governo Jair Bolsonaro nesses dias de isolamento social, vários fatores levaram a que os atos públicos de 7 de junho pelas capitais do país, embora importantes, tenham ficado bem aquém do que poderiam ser. Não se deve esquecer que houve panelaços e carreatas, além da reação das janelas em S. Paulo, atirando toda sorte de objetos contra a PM.

O maior dos temores é a disseminação da covid19 em larga escala nos ambientes de concentração de pessoas, sem que a curva de contaminação tenha achatado. Isso se explica pelo fato de que o setor mais lúcido da sociedade vê com perplexidade a onda do “liberou geral”, comandada por Bolsonaro, governadores e prefeitos, adotando medidas pela retomada das atividades econômicas nas últimas semanas.

O segundo foi a postura de alguns partidos da “ex-querda”, que decidiram desaconselhar a ida às manifestações ou não convocar sua militância, temendo provocações e uma represália que poderia ser de forte repressão policial ou um autogolpe de Bolsonaro. Até boatos de que as tropas permaneceriam de plantão nos quartéis neste domingo foram disseminados nas redes.

Ouvir de Emicida e Tico Santa Cruz conselhos sobre a inconveniência das manifestações é compreensível. Afinal, não são militantes e nem pretendem formular política para o enfrentamento do governo Bolsonaro, do racismo e tudo que ele representa. Pouco se poderia esperar do liberal democrata Ciro Gomes (que pelo menos deu a cara à tapa e disse que não aconselhava a ida às manifestações), ou do professor Luís Eduardo Soares.

Mas o silêncio das direções e lideranças de partidos de “ex-querda” é mais uma demonstração do distanciamento dessas organizações burocratizadas das ruas e a postura recuada que vêm adotando nos últimos anos. Preferem continuar brincando de legalidade e eleições, publicando notas de repúdio e registrando pedidos de impeachment, enquanto o bolsonarismo sapateia na cara do povo brasileiro.

No resto do mundo os partidos de esquerda juntaram-se às manifestações populares antirracistas nos EUA e na Europa. Mas no Brasil, infelizmente, essas organizações pouco contribuem para uma saída popular da crise e muito menos para a construção de uma consciência revolucionária entre a juventude. Abra-se exceção para Guilherme Boulos e sua corajosa Frente Povo Sem Medo.

Isso só evidencia que a reorganização da esquerda marxista ainda está em aberto, o que dificulta a existência de uma política consequente, longe dos grupúsculos sectários e autoproclamatórios de sempre e do velho e ultrapassado reformismo deslavado.

As manifestações de 7 de junho foram um sopro de esperança para a construção de uma saída popular e uma demonstração de que é possível acuar a extrema direita, desgastada que está com o fracasso da política econômica entreguista e pró-capital financeiro, e da sua completa inconsequência para enfrentar a pandemia de covid19.

Espera-se para as próximas semanas a consequência do fim do isolamento social meia-boca e do “liberou geral” para a covid19 no Brasil. Obviamente, isso vai merecer uma resposta política frime da oposição. As organizações Globo já perceberam isso e se apressa em montar uma saída pelo “centro”, procurando aproximar FHC, Marina Silva e Ciro Gomes.

A depender da capacidade de articulação das oposições com as ruas, é possível que se trace um rumo para encurtar a existência do governo Bolsonaro, através da anulação do pleito viciado de 2018 e da convocação de novas eleições.