O segundo turno das eleições municipais abrangeu boa parte das capitais e grandes cidades do país, com a participação do grosso do eleitorado. É verdade que as eleições para prefeito refletem muito a realidade local, que os grandes temas nacionais não influenciam de maneira determinante o eleitor na hora de sua definição. Mas o resultado da eleição municipal soma para a eleição a governador e a deputados estaduais e federais, dois anos depois.

E é nesse clima que se pode tirar algumas conclusões: 1) Apesar de vencer em São Paulo, derrotando o rejeitado Serra (PSDB), o PT perdeu influência nestas eleições, sobretudo nas capitais do país; 2) O PSB confirmou seu crescimento também no segundo turno, elegendo seus candidatos em 5 capitais e outras cidades importantes; 3) O PSDB e o DEM tiveram vitórias de relativa importância em algumas capitais, mas no geral também se saíram mal nestas eleições; 4) O PMDB manteve a tradição de maior partido municipalista, sendo a legenda que mais elegeu prefeitos, mas o grande vitorioso do partido foi o governador Sérgio Cabral (RJ).

Vamos conferir?
1) A vitória de Fernando Haddad em São Paulo pode ser creditado a dois aspectos: o desgaste/rejeição de José Serra e do prefeito Kassab e o empenho pessoal de Lula na campanha de seu candidato. O partido venceu ainda em seis dos sete maiores colégio eleitorais do Estado de S. Paulo. Apesar disso, o PT está fora do tabuleiro administrativo das outros seis maiores colégios eleitorais do país. Em Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e Fortaleza os candidatos do PT foram rejeitados e no Rio o partido sequer tem força para apresentar candidato próprio, subordinado que está ao PMDB de Cabral. O PT foi fragorosamente derrotado nas capitais do Sul e do Nordeste, região em que elegeu apenas o prefeito de João Pessoa. Cresceu nas pequenas e médias cidades.

2) O PSB, uma espécie de genérico light do PT, confirmou no segundo turno seu crescimento em todo o país (em torno de 40%). Além de crescer muito no Nordeste, o PSB também fincou cabeças de ponte em cidades importantes no Sudeste, como BH, Campinas (SP) e Duque de Caxias (RJ). Este resultado credencia o partido e seu líder maior, Eduardo Campos (PE), a reivindicar uma fatia maior no ministério de Dilma e prepara o PSB para voos mais altos nas eleições de 2014, podendo pressionar pela candidatura a vice da presidente e até mesmo buscar uma candidatura própria em coligação com o PSDB.

3) A oposição conservadora, representada pelo PSDB e DEM, também saiu derrotada nestas eleições. Com algumas vitórias importantes, mas pontuais – como em Manaus (PSDB), Belém (PSDB) e Salvador (DEM) – esses dois partidos parecem perdidos e deverão enfrentar reformulações até 2014, sob pena de seguirem sofrendo defecções e novas derrotas nas próximas eleições. PP e PSD, aliados da presidente Dilma, tiveram um crescimento esperado em número de prefeituras conquistadas nestas eleições e vão cobrar a fatura em cargos e ministérios no governo.

4) O PMDB, a maior colcha de retalhos de oligarquias na política brasileira, segue sua sina de eleger a maior parte dos prefeitos em todas as regiões do país: foram cerca de 1000, em sua maioria em pequenas e médias cidades. Mas o maior beneficiário do partido destas eleições municipais foi o governador do Rio, Sérgio Cabral. Além de reeleger o prefeito do Rio no primeiro turno, Cabral obteve vitórias importantes em Nova Iguaçu, Volta Redonda e Niterói, apesar do prefeito eleito ser do PT. Mas para surpresa geral o PSB lhe infringiu derrotas importantes em Caxias e Petrópolis, o mesmo acontecendo em São Gonçalo (segundo colégio eleitoral do RJ), em que o candidato do ex-governador Garotinho derrotou o candidato apoiado por Cabral.

Algumas conclusões
É preciso relativizar a importância destes resultados para a eleição presidencial de 2014. No entanto, eles devem ser determinantes para as eleições aos governos dos estados e as bancadas de deputados. O grande vitorioso é o PSB porque seu maior líder nacional, Eduardo Campos, consegue agrupar forças em seu partido. Já o governador Cabral é uma das tantas lideranças regionais do PMDB e seu peso político ainda se resume ao Rio de Janeiro, apesar da importância política do estado. Campos é uma liderança política legitimada por seu partido e pode sonhar mais alto. Já Cabral ainda é uma liderança regional legitimada pela máquina do seu governo. A grande força do PMDB continua nas mãos de Michel Temer, do PMDB paulista. E Temer pretende conduzir o PMDB com o mesmo objetivo das últimas décadas: manter-se como base do governo e usufruir das benesses do poder.

Dilma Roussef não foi questionada nestas eleições municipais, mas o PT saiu enfraquecido. Como consequência Dilma deverá reorganizar seu ministério, tentando reagrupar forças para as eleições a governadores e sua reeleição em 2014. Será pressionada por todos os partidos da “base aliada”, ampliando o poder e os espaços já ocupados por grupos fisiológicos e conservadores no seu governo. Para o PSDB e o DEM resta tentar atrair o PSB, que pode arriscar uma cartada numa disputa presidencial contra Dilma/PT em 2014. Mas esta possibilidade ainda é bem menor do que a recomposição do PSB com o PT, claro que em troca de maior expressão em cargos e ministérios no governo.

Nova Iguaçu, Caxias, Belfort Roxo, Niterói, São Gonçalo. Nestas cinco cidades do Grande Rio haverá segundo turno eleitoral. Delas só em Belfort Roxo o cenário está praticamente definido, com Denis Dautman – o estilista do PCdoB – praticamente eleito.

Nas outras quatro existem tendências indicadas pelas pesquisas, mas a julgar pelo primeiro turno as coisas não são tão simples como podem parecer.

Em Nova Iguaçu a eleição pegou fogo no segundo turno, com a polarização entre a atual prefeita Sheila Gama e o ex-prefeito Nelson Bornier. O peemedebista conquistou o apoio explícito do governador Cabral, já Sheila amealhou o apoio dos demais candidatos derrotados, cobrando os tais três milhões que Bornier estaria devendo à prefeitura. Sua campanha só não diz que dívida é esta. As pesquisas ainda apontam ligeira vantagem para Bornier e grande crescimento de Sheila nas últimas semanas.

O ex-prefeito e atual senador, Lindbergh Farias (PT), nem pôs os pés na cidade. Ele responsabiliza Sheila por deixar a administração municipal desandar nos últimos dois anos, quando deixou a prefeitura. Até parece que sua gestão foi as mil maravilhas. Bem ao seu estilo, Lindbergh não quer compromisso e precisa de uma boa desculpa, deixando sua ex-aliada na fogueira. O senador quer mais é conquistar a simpatia do PSB para 2014 e, para isso, preferiu apoiar os candidatos daquele partido no segundo turno.

Em Caxias a disputa segue acirrada entre Washington Reis (PMDB e ex-aliado de Zito) e Alexandre Cardoso (PSB), que apesar de ser secretário estadual não conta com o apoio do governador Cabral. Zito não definiu apoio a nenhum dos dois e parece que eles também não querem, tal a impopularidade do atual prefeito. Não há pesquisa publicada sobre o segundo turno em Caxias e o resultado do primeiro turno indica que o vencedor deverá levar por margem pequena de votos.

Em São Gonçalo, segundo maior colégio eleitoral do Estado, as pesquisas apontam cerca de 12% de vantagem para Adolpho Konder (PDT), apoiado pelo governador, contra Neilton Mulin (PR), ligado ao ex-governador Garotinho. A Polícia Federal deu uma dura na prefeitura, que estaria usando a máquina administrativa para fortalecer o candidato pedetista. Seja como for, deve dar Konder.

Na cidade de Niterói o candidato do PT, Rodrigo Neves (ex-secretário de estado e apoiado por Cabral), aparece na frente nas pesquisas contra Felipe Cardoso (PDT), que procura se dissociar da imagem do atual prefeito Jorge Roberto da Silveira. O clima esquentou na última semana, com o assassinato de um vereador eleito pelo PRP, partido que no primeiro turno pertencia à coligação de Cardoso e que no segundo se bandeou para Neves. Acontece que Lúcio do Nevada, único vereador eleito pela legenda, manteve seu apoio ao pedetista e acabou crivado de balas.

O que está em jogo nestas cidades não é apenas a prefeitura e a administração municipal pelos próximos quatro anos. Por trás dessas disputas locais a sucessão estadual de 2014. E pelo visto o governador Cabral deve ser amplamente favorecido no tabuleiro de xadrez da política fluminense. Garotinho deve manter sua base no Norte Fluminense e o Psol terá que tirar da manga um nome conhecido do eleitorado para ampliar sua força ao interior.

Para dar solução ao problema do crack é preciso definir o que é esta droga e os efeitos que ela causa em seus usuários. Sem isso o debate se perde entre os que são a favor e os que são contra a internação compulsória dos “cracudos”.

O crack é a sobra da cocaína e tem poder destrutivo do organismo humano várias vezes superior ao da coca e em tempo muito menor. O usuário do crack tem um perfil de baixíssima renda, já que o preço da droga é bem barato. Daí porque as colônias de cracudos se formarem próximas de favelas e pontos de vendas bem populares.

Na verdade a grande massa dos cracudos é formada de pessoas de comunidades e que já vivem nas ruas, que por diversos motivos perdem a perspectiva de levar uma vida digna. O crack pode ser causa ou conseqüência desta situação.

Qualquer pessoa sabe que um cracudo em estágio avançado se torna quase um mendigo, que faz qualquer coisa para manter o vício. Rouba, furta e até mata, se for o caso. Em estado de torpor os viciados não têm qualquer condição de responder por si mesmas. Daí porque a internação desses viciados deve ser vista como um caminho para a sua recuperação.

No entanto, o anúncio da internação compulsória dos viciados maiores de idade soa como mais uma tentativa das elites cariocas de “limpar” a cidade. Pegam os viciados e os atiram em centros de “reabilitação” ou casas de saúde que não possuem qualquer estrutura séria e profissional para atender aos doentes. É o que se constatou nas visitas realizadas pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio às casas de acolhimento de menores e adolescentes viciados em crack.

Esses centros de dependência química têm entre um de seus gestores o presidente da Casa Espírita Tesloo, o major reformado da PM, Sérgio Magalhães, famoso matador de tantos “autos de resistência” nas costas. Este cidadão já angariou, de 2005 para cá, R$ 80 milhões da Prefeitura para prestar o serviços nessas casas de acolhimento para menores abandonados e famílias desamparadas.

A perseguição aos cracudos e sua internação compulsória faz parte da mesma mentalidade elitista que deu origem à reforma urbana do início do século XX, no Rio, conduzida pelo então prefeito Pereira Passos. Na época o objetivo era expulsar os pobres e favelados e transformar o Centro no coração financeiro do país. Hoje o projeto é “higienizar” a cidade, permitindo que o mercado tenha total liberdade e domínio para a realização de seus negócios e megaeventos.

O crack só agrava os desajustes sociais e psíquicos dos dependentes. Portanto, é um problema que envolve um acompanhamento muito mais delicado e permanente dos órgãos públicos, não pode ser alvo de demagogia ou de rompantes autoritários de quem quer que seja. A julgar pelo comportamento por vezes fora do sério do senhor prefeito, talvez fosse o caso de se pensar em internação.

É de dar inveja à Prefeito do interior a maracutaia armada pelo governo Cabral para entregar o Maracanã à iniciativa privada. O Estado já empregou R$ 870 milhões para colocar o estádio dentro das exigências da FIFA e agora libera um edital de privatização que prevê o retorno de cerca de 28% deste valor para os cofres públicos.

Diz o tal edital que o concessionário terá que investir mais de R$ 400 milhões em novas obras, que incluem a construção de estacionamentos. O grupo privado vencedor terá que arcar com a derrubada do parque aquático Julio Delamare, do estádio de atletismo Célio de Barros, do antigo Museu do Índio e até de uma escola pública que funciona nas dependências do Maracanã.

É evidente que a grana para isso pode sair do bom e velho BNDES, que deverá custear o investimento a juros de pai para filho e em parcelas a perder de vista. Flamengo e Fluminense estão fora do negócio e corre a boca pequena que um dos grupos que estão de olho no negócio – a IMX – pertence ao empresário Eike Batista.

Cabe lembrar que o velho Maracanã também foi construído com dinheiro público, para sediar jogos da Copa de 1950. Para ajudar a custear a construção foram vendidos os camarotes e seus atuais proprietários ainda não sabem sequer se serão ressarcidos no processo de privatização.

No velho Maraca havia a Geral, local com ingresso bem barato reservado ao povão. Idosos e menores tinham ingresso gratuito garantido. As dependências do Maracanã – incluindo o parque aquático Julio Delamare, o Célio de Barros e o anel externo – formam um espaço para atletas e uma área de lazer para os freqüentadores.

Mas, afinal, quem quer saber de gratuidade? Isso é coisa do passado. Modernidade da lógica do “mercado” não inclui esse tipo de benefício, a não ser nas operações para transferir dinheiro e patrimônio público a grandes empresas.

Para coroar a maracutaia a intenção do governo do Estado é concluir a entrega do novo Maracanã à iniciativa privada no início de 2013, antes mesmo da Copa das Confederações. Povo em estádios nunca mais. Agora o jeito é ver o espetáculo pela TV.

O transporte de massa continua sendo o setor mais sensível e caótico da administração pública do Rio de Janeiro. Trens e metrô são questões relativas à administração estadual, mas a frota de cerca de 8 mil ônibus que circulam pela cidade é de responsabilidade da Prefeitura.

Faz alguns dias o prefeito reeleito anunciou que toda a frota de ônibus municipais terá ar-condicionado até 2016 e que, por conta deste diferencial, deve antecipar o reajuste das passagens para janeiro que vem, quando os reajustes costumam acontecer em fevereiro. Ninguém falou em preço, mas especula-se que uma das passagens mais elevadas do país deve ficar ainda mais cara, em torno de R$ 3,00.

Agora Paes anuncia que a nova licitação do transporte alternativo de vans da cidade deve ficar pronta em novembro. Como transporte complementar as vans não poderão circular pela Avenida Brasil, Presidente Vargas e Avenida Rio Branco, principais artérias do trânsito da cidade. Devem ser licitadas as permissões para cerca de 3.500 vans. Atualmente elas são responsáveis por transportar 800 mil pessoas por dia na cidade.

De acordo com o prefeito a nova licitação não deve incluir a Zona Oeste, que já teria um processo em curso. O Sindvans informa que a prefeitura já fechou mais de 400 contratos na Zona Oeste, atropelando as negociações que ela mesma conduz com os donos dos veículos. Aliás, as negociações foram conduzidas pelo vice de Paes, Carlos Alberto Muniz.

Aos permissionários do alternativo que não estiverem satisfeitos Paes já mandou o recado: “Quem participar de passeata, carreata e tiver licença da prefeitura vai perder sua licença e não vai mais participar de licitação. Acabou a bagunça”, avisou.

Ao fim e ao cabo faz sentido o esmero do prefeito reeleito com as concessionárias de transporte rodoviário na cidade. É o agradecimento do candidato que contou com o apoio mais do que explícito dos empresários de ônibus à sua reeleição.

Peixe morre pela boca, é verdade, mas peixe não fala, ao contrário do prefeito e o governador do Rio que falam muito. Embalados pela vitória com dois terços dos votos válidos na recente eleição, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes soltaram a língua nos últimos dias.

O Prefeito deu declarações de insatisfação com o andamento das obras da Copa 2014, dizendo que o país está perdendo a oportunidade de se mostrar a altura dos desafios de um grande evento internacional. Foi desmentido pelo ministro do Esporte, Aldo Rabelo, que considerou Paes desinformado sobre o que acontece em sua cidade e o andamento dos preparativos para a Copa.

Depois, o prefeito reeleito bajulou o chefe Cabral – que ele escondeu nas eleições – sugerindo que o governador seria um bom vice para a reeleição de Dilma Roussef. A declaração não pegou bem nas hostes políticas de Brasília e nas cúpulas dos partidos da chamada “base aliada” do governo Dilma.

Em sua mais recente declaração nosso alcaide afirmou que é a favor da internação de viciados em crack, mas esqueceu que no município não há sequer acomodações para isso.

Já o governador desancou a Refinaria de Manguinhos, alegando que se trata de empresa inadimplente com o Estado e prometendo desapropriar o terreno da companhia, próximo às comunidades ocupadas pela polícia, para construir 9 mil moradias populares no local. Pode ser que Manguinhos tenha mesmo contas a acertar com o erário público, mas para quem concedeu tantos incentivos fiscais para outras empresas se instalarem no Estado, a declaração soa hipócrita.

Especialistas já alertaram que se trata de terreno com subsolo totalmente comprometido, por ter sido local de armazenamento de resíduos tóxicos durante muitos anos. Além disso, a descontaminação do lugar duraria cerca de dois anos, ao custo de R$ 100 milhões.

Agora, Cabral declara que vai por abaixo o prédio do Museu do índio, no Maracanã, ocupado por famílias indígenas há mais de sei anos. O imóvel, que tem mais de cem anos e pertencia à Conab, órgão federal, foi comprado pelo Estado por R$ 60 milhões em meados deste ano.

De acordo com o governador a demolição seria uma exigência da FIFA que, no entanto, desmente qualquer intenção neste sentido em documento dirigido à Defensoria Pública da União. Órgãos de preservação, como o Iphan, estão contra a demolição, que também não encontra base técnica, já que o CREA não vê motivos que justifiquem a derrubada do prédio.

Os delírios do prefeito e do governador do Rio servem para alimentar polêmicas e encher o noticiário de especulações. Mas basta que a imprensa cumpra o dever de buscar a informação para que as declarações de Paes e Cabral caiam no vazio, quando não beiram o ridículo.

Não sou noveleiro, mas não faço campanha contra. Quem quiser que veja. Mas dia desses, sem ter o que fazer no horário das 18:30h, me deparei com um capítulo da novela Lado a Lado, da Globo.

O folhetim retrata o Rio de Janeiro do início do século XX, cidade em ebulição e de grandes contrastes sociais. Até aí tudo bem, o problema é que o assunto abordado era a chamada Revolta da Vacina, episódio importante e pouco conhecido da História do Brasil que ocorreu em novembro de 1904.

Pois os autores conseguiram transformar a população pobre e enfurecida contra a limpeza étnica e social promovida pelo governo Pereira Passos – que usava a campanha de vacinação contra a varíola como desculpa – numa massa de manobra de políticos de oposição. De acordo com a trama um grupo de capoeiras teria sido comprado por um membro da oposição para promover a “desordem” e a “balbúrdia”.

A coisa foi apresentada de forma tão ridícula que até um casalzinho bem intencionado, no intuito de promover a paz, teria convidado representantes dos dois lados do conflito para um jantar em sua casa.

Francamente, se o objetivo era resgatar uma passagem da História do Brasil, bastava usar como roteiro o livro “Os Bestializados”, do historiador José Murilo de Carvalho, que aborda com detalhes o episódio da chamada Revolta da Vacina. Ali fica evidente, a partir de farta pesquisa com documentação da época, que o prefeito Pereira Passos queria “limpar” todo o Centro antigo, na região portuária e adjacências, para abrir a Avenida Rio Branco, que viria a ser o centro financeiro do país.

A vacina contra a varíola, ministrada à força e sem esclarecimento aos moradores de cortiços da região, foi apenas o estopim da revolta. O conflito gerou quebra-quebras e enfrentamentos de rua. A capital federal simplesmente ficou sem governo por sete dias, porque as tropas do governo foram colocadas para correr.

É lamentável que um episódio tão representativo da História do Brasil seja transformado em revolta manipulada por intrigas de interesses mesquinhos de grupos opositores ao governo.

Para quem quiser conferir:
“Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi”
(Editora Companhia das Letras)

Desde 2005/2006 existe no bairro Jd. Padroeira II em Osasco/SP uma comunidade chamada Raio de luz onde vivem cerca de mil famílias. O terreno havia sido aberto para a construção do Rodoanel e abandonado desde então (2002). No final de 2011 a DERSA, que é uma empresa do Governo do Estado de São Paulo (PSDB) e proprietária da área, vendeu o terreno com as famílias dentro para uma empresa chamada Vega, que por sua vez entrou com um processo de reintegração de posse. Em reunião de conciliação com o judiciário a empresa se propôs a indenizar as famílias em R$ 2.000,00. Como se com dois mil reais desse para resolver o problema de moradia destas famílias.

Após várias tentativas de diálogo frustradas e um jogo de empurra-empurra entre Governo Estadual, DERSA, VEGA e Prefeitura de Osasco (PT) as famílias organizadas no movimento popular TERRA LIVRE em protesto bloquearam o Rodoanel no dia 14 de setembro, gerando grande repercussão em nível nacional para o caso. Somente após o travamento do Rodoanel as negociações começaram a avançar.

Fizemos uma reunião que contou com a Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo, a DERSA, o dono do terreno e o movimento Terra Livre junto com a Associação Casa do Povo. Na reunião em questão Prefeitura e Estado, através de suas secretarias de habitação se comprometeram a encontrar um terreno alternativo para inclusão das famílias nos programa Minha Casa Minha Vida e Casa Paulista, ficando a prefeitura responsável por este novo terreno.

Enquanto o tempo passa, a justiça determina a reintegração de posse da comunidade Raio de Luz que pode acontecer enquanto o poder público diz buscar uma alternativa. As famílias e o movimento popular Terra Livre não vão esperar que uma nova tragédia como a do Pinheirinho aconteça: O PSDB e o PT (Estado e Prefeitura) serão responsáveis por um novo Pinheirinho.

http://terralivre.org/2012/10/mil-familias-lutam-contra-despejo-osasco/

Assembléia dos moradores da ocupação Raio de Luz: Sábado 20/10/2012 – 9h

Informações: terralivre.nacional@gmail.com

Depois de muita onda e propaganda desinformativa, a grande mídia mais uma vez se cala diante do resultado eleitoral na Venezuela. Como jornalista esperei uma explicação sensata ou ao menos plausível para os números da eleição de 7 de outubro, quando o presidente Hugo Chavez (descrito como ditador populista) venceu seu opositor por 11% de diferença. De onde tiraram e difundiram a informação de que havia “empate técnico” nas pesquisas antes das eleições?

Nenhuma autocrítica, ainda mais depois de meses de intensa cobertura baseada em propaganda. O máximo que conseguiram foi reproduzir um vídeo da internet em que uma senhora era ajudada até a cabine de votação por um fiscal do PSUV, lançando suspeitas sobre a democracia na Venezuela. Se é para falar de democracia então deveriam lembrar que em 7 de outubro mais de 80% do eleitorado venezuelano foi às urnas (bem mais do que todas as eleições dos últimos anos em todo o Mundo), que nenhum partido foi impedido de participar de eleições em dois mandatos de Chavez, que foram feitas inúmeras consultas populares pela via do voto, inclusive a que Chavez perdeu sobre a reforma constitucional.

Jimmy Carter, ex-presidente norte-americano, é o maior entusiasta da democracia na Venezuela, que qualifica como das mais perfeitas. Se for para falar de liberdade de informação é preciso lembrar que 85% dos meios de comunicação na Venezuela pertencem a grupos privados, em sua maioria anti-chavistas.

Chavez é tratado pela mídia monopolista privada como um bufão, um governante primário. Suas idéias e propostas são sempre vistas com chacotas. Mas nenhuma agência internacional explicou porque Chavez terá mais sete anos de mandato. Será que a queda do desemprego pela metade não representa nada? Será que a redução drástica da pobreza (e lá não tem Fome Zero) de 44% para 27% não é um dado importante? E a queda da pobreza extrema de 25% para 7% também não conta? A erradicação do analfabetismo, reconhecida pela ONU, seria um dado desprezível? Ou talvez a criação de 22 novas universidades públicas seja outro fato insignificante?

Com seus erros e acertos a revolução bolivariana avança na Venezuela e ganha cada vez mais simpatizantes na América Latina e no mundo. Seu maior mérito não é estar respaldada pelos votos de seu líder máximo, mas a capacidade que seu governo vem tendo de enfrentar os problemas do povo sem demagogia e as crises políticas, sempre reafirmando a via democrática como saída para tudo. Assim, o governo bolivariano da Venezuela enfrenta de peito aberto e derrota, com apoio de massas. as elites venezuelanas e suas inspirações golpistas.

Ao contrário do que assistimos no Brasil, com projetos demagógicos e paternalistas dos governos petistas, os dois governos bolivarianos da Venezuela acuaram o grande capital e seus representantes. Por isso seu líder merece o ódio mortal da grande mídia internacional. A lição que Chavez nos dá é que é possível tirar um país do atraso através da força popular, sem precisar conciliar com qualquer tipo de “base aliada”, no velho exercício de conciliação das classes dominantes brasileiras, que mantêm refém a frágil democracia brasileira e qualquer governo que decida optar por aceitar suas armadilhas.

Como disse em artigo anterior aqui no blog, o derrotado nestas eleições foi o PT. O mau resultado do PT pouco teve a ver com o julgamento do mensalão. Longe de ser uma derrota acachapante, mas foi considerável. Não adianta insistir que o PT venceu em um bom número de cidades com mais de 200 mil habitantes, que triunfou em Rio Branco (AC), que ganhou em cidades da Grande São Paulo, avançou no Centro-Oeste ou que vai ao segundo turno em S. Paulo, Salvador e Fortaleza.

A derrota do PT se deve, essencialmente, pela opção consciente de seus líderes de formar a grande base aliada conservadora que sustentou Lula e sustenta Dilma no Congresso Nacional e nos estados. É isso que faz o projeto petista palatável às oligarquias regionais e seus partidos no Brasil. É isso que faz do projeto petista um reformismo conservador, que não toca na concentração da riqueza, ao contrário do reformismo revolucionário de Hugo Chavez, na Venezuela, e dos governos da Bolívia e Equador, que enfrentam a fúria e a oposição frontal das elites tradicionais de seus países.

O vencedor das eleições municipais foi o PSB, uma espécie de genérico do PT no qual se abrigam gregos e troianos que foram colocados de escanteio pelos petistas pelos motivos mais diversos. O PSB venceu em Belo Horizonte e Recife no primeiro turno e disputa o segundo turno em algumas capitais com boas chances de vitória. O principal beneficiário disso é o governador Eduardo Campos, que desponta como liderança inconteste do partido, superando inclusive o tradicional grupo cearense de Ciro Gomes.

O PMDB – partido das principais oligarquias regionais – segue a sina de eleger o maior número de prefeitos e vereadores, reafirmando sua vocação municipalista e uma estrutura de décadas nos médios e pequenos municípios. O grande beneficiado dentro do PMDB com os resultados nesta eleição foi o governador do Rio, Sérgio Cabral, que emplacou a reeleição do prefeito do Rio e disputa o segundo turno em três cidades (N. Iguaçu, Caxias e Niterói). Apesar do seu desgaste pessoal, suas peças estão muito bem colocadas no tabuleiro para o xadrez eleitoral do Rio em 2016.

Com isso fecham-se as portas para o nome do senador Lindberg Farias ao governo do estado numa chapa com o PMDB. Conhecendo um pouco da personalidade de Lindberg eu diria que certamente ele já está pensando em mudar de partido mais uma vez. Quem sabe o PSB? Não seria mau negócio para as pretensões de Eduardo Campos na disputa presidencial de 2018 ter um grande nome no Rio de Janeiro em 2016. Desde que a mudança não alimente ambições maiores na cabeça do senador.

O PSDB se segura na já tradicional luta entre o grupo mineiro de Aécio (que teve importância na aliança que levou à reeleição do prefeito de Belo Horizonte) e o grupo paulista de José Serra, que disputa mais uma vez a eleição para a prefeitura de S. Paulo. Se Serra perder Aécio se fortalece ainda mais para ser o nome à eleição presidencial de 2014; se Serra vencer terá que rebolar entre ser prefeito da maior cidade do país e, dependendo do andar da carruagem, disputar a Presidência mais uma vez. Uma missão inglória dada a popularidade de Dilma. Talvez o PSDB passe a vez para um aliado de perfil mais conservador ou escolha um nome só para marcar posição.

O PT é hoje um monstrengo de duas cabeças enormes com um corpo franzino e pernas frágeis. A avaliação positiva de Lula e Dilma (até o momento) dá ao partido a certeza de que a candidatura à reeleição da Presidente em 2014 não será contestada entre os partidos da “base aliada”. No entanto, Eduardo Campos (PSB) e Sérgio Cabral (PMDB) vão cobrar caro a fatura desta eleição municipal. Talvez com mais ministérios agora, deixando a disputa pela vice-presidência um pouco mais para frente. Mas a pressão da “base aliada” vai aumentar ainda mais por espaços na administração federal.

A questão que está posta é a sucessão presidencial em 2018. Tanto o PSB quanto o PMDB terão que se fortalecer ainda mais nas eleições para governador e deputados em 2014 e na eleição municipal de 2016, para disputar a indicação presidencial na sucessão de Dilma. O PT sempre terá Lula como opção (embora bem mais velho) e também pode projetar outros nomes até lá. Neste momento este nome ainda não apareceu, mas não se deve subestimar a força dos quadros partidários do PT.

Dois partidos cresceram ocupando os espaços deixados por outras legendas partidárias. O PSD, de Gilberto Kassab, tomou conta de alguns redutos do DEM, que só venceu em Aracaju e disputa o segundo turno em Salvador. Aliás, o fraco desempenho do Democratas sugere que este partido pode até acabar, com a adesão a outra legenda conservadora.

Por sua vez o Psol se consolida como partido da esquerda socialista, pelo menos no plano político eleitoral. Com pouco tempo de existência o Psol deixa a marginalidade eleitoral e vai ao segundo turno em duas capitais (Belém e Macapá), além de ter projetado Marcelo Freixo, no Rio, com vocação de liderança no plano nacional. Definitivamente o Psol ocupou a faixa do eleitorado progressista e de esquerda deixado pelo PT, elegendo vereadores na maioria das capitais e grandes cidades. Se consolidar uma aliança com a ex-senadora Marina Silva, o Psol pode crescer ainda mais nas eleições presidenciais de 2014. Resta saber se essa aliança vale a pena e que preço o partido pretende pagar por ela.